Como uma desgraça nunca vem só, mal tinha acabado de publicar a receita anterior, deparei-me, na copa de uma das clínicas onde trabalho, com um bolo de aspecto e cheiro (mesmo com máscara!) divinais. Após averiguação, consegui identificar a autora do crime — uma colega que, pensando numa outra pessoa da equipa com intolerância à lactose, decidira fazer um presente que todos pudéssemos realmente comer — e pedir a receita. No dia seguinte, leia-se, ontem, após uma ida de abastecimento à Glood e aos supermercados do costume, já estava a experimentá-la. Neurose/compulsão ou eficiência — quem sabe? Importa?
Vamos por partes. A receita original desta pequena maravilha é do nosso conhecido Chef José Avillez. Ora, como o número de Ls no apelido do senhor indica, esta trata-se de uma receita para ricos, já que sugere 230g de farinha de amêndoa — sendo que esta farinha, em todas as marcas que conheço, só está geralmente à venda em pacotes de 200g, cada um deles ao preço de um tinteiro/frasco de sangue de unicórnio. Assim sendo, e como não andei no Colégio da Barra nem sou influencer, usei o que efectivamente me tem permitido navegar a vida — o cérebro — e adaptei todas as quantidades da receita para 200g de farinha, de forma a não ter de vender um rim para fazer este bolo em casa. Não mudei a quantidade de bananas e ovos, porque, como diria uma pessoa que adoro, isso seria estúpido — simplesmente, usei bananas e ovos médios-pequenos, ao invés de grandes.
Segunda parte: então isto é saudável? Bom, mais ou menos. Podia ser pior. Frutos secos têm inúmeras qualidades em quantidade moderada, e a farinha de amêndoa, enquanto substituto das farinhas tradicionais, herda também inúmeras vantagens para a saúde. O óleo de coco é uma zona cinzenta — geralmente, não gosto de usar, porque tem muito mais gorduras saturadas e calorias do que outros equivalentes; no entanto, atendendo precisamente ao facto de que não costumo usar, não me pareceu uma negligência por aí além importante (e o aroma dele é outra coisa). O mel, por milhões de razões, é melhor do que qualquer tipo de açúcar, e esta receita, de qualquer maneira, não leva muito (posso “avisar” já que é pouco doce — mas, para mim, isso foi parte do encanto). O cacau magro, por sua vez, é uma forma excelente de saciar o apetite de chocolate, e um dos segredos para a deliciosidade (aviso #2: esta palavra não existe — não usem) deste bolo.
Porque o fazer? Permitam-me responder com uma fotografia:
Como não o fazer? Foi o que pensei quando o vi a primeira vez, e o que espero que estejam a pensar também. A textura é exactamente o que estão à espera — húmida, “térrea” e granulada, com a farinha de amêndoa a fazer toda a diferença e a valer os órgãos vendidos no mercado negro; o sabor, fortíssimo, é dominado pela banana e pelo cacau, deixando laivos de todos os restantes ingredientes. O exemplo perfeito de um bolo que, apresentando-se modesto e claramente caseiro, sabe claramente a segredos mais profissionais: e ideal, portanto, para partilhar com os comuns mortais que os desconhecem.
É, também, estupidamente fácil de fazer — e rápido. Notarão que a receita do Chef refere 30-40 minutos de forno — no entanto, no meu, esse tempo deixaria o bolo muito seco, sendo que verifiquei que 20 são o ideal. Sugiro que aos 20 minutos façam o teste do palito, e, se este sair seco, desliguem logo o calor. Se não, vão vigiando, porque a textura húmida é, efectivamente, um dos pontos fortes desta maravilha, e cheira-me que se perderá com tempo a mais. Mãos à obra!
FICHA TÉCNICA
- Tempo: 15 min (preparação) + 20 min (forno).
- Dificuldade: Muito baixa.
- Porções: 12 doses.
- Calorias (total): 2510 kcal.
- Calorias (1 muffin): 209 kcal.